quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Negro, mulher, gay, e daí?

Hoje quase não assisto a novelas, mas quando elas são assinadas por Gilberto Braga ou Manoel Carlos, o sofá me chama. Foi esparramada nele que assisti ao primeiro capítulo de Viver a Vida, não porque teria a-primeira-protagonista-negra-de-uma-novela-das-oito, como exaustivamente anunciaram a presença de Taís Araújo no elenco, mas porque achei que iria me divertir, que é para o que servem as novelas. No entanto, em vez de me divertir, gelei ao ouvir uma frase da personagem de Lilia Cabral, que, conversando com a filha sobre o ex-marido, desdenhou: “Ele sempre trocou o vinho pela cerveja, o banquete pelo sanduíche, o restaurante pelo boteco, é natural que agora, recém-divorciado, troque uma branca por uma negra”.Entendo perfeitamente que Manoel Carlos queira mostrar o quão hipócrita é essa história de dizer que no Brasil não existe racismo, e jogou essa bomba atômica já no primeiro capítulo para alertar que, fora de casa, as pessoas podem até ter aprendido que discriminação é crime, mas que intramuros, sem fiscalização e testemunhas, ainda se dizem barbaridades e se propaga o preconceito.Em todo caso, me pergunto como seria se, em vez de “provocar reflexões”, simplesmente tratássemos nossa convivência com mais naturalidade. Ou seja: imagine se ninguém mencionasse que Taís Araújo é negra. Que ela fosse mocinha ou bandida sem que sua raça importasse para a sinopse da trama, da mesma forma que ninguém salienta que Aline Moraes é branca. Haveria quem detectasse aí uma perda de oportunidade para se discutir uma questão social importante do país, mas, na minha utópica inocência, creio que não estimular uma percepção diferenciada poderia fazer mais pela igualdade racial do que seguir martelando “o primeiro negro a fazer isso”, “a primeira mulher a fazer aquilo”, “o primeiro homossexual a conquistar tal coisa”. Aos poucos, ninguém mais repararia se é um negro, uma mulher ou um gay a vencer: seria uma pessoa como outra qualquer – como de fato é.Esperar que não se mencionasse que Obama foi o primeiro presidente negro eleito nos Estados Unidos já seria inocência demais, ok. Mas é preciso continuar a falar disso? Se Dilma ou Marina se elegerem presidente do Brasil, não seria interessante que elas não entrassem para a História como as primeiras mulheres a ocupar tão honorável cargo, e sim tratá-las exatamente como se trataria o Serra ao assumir o posto?Sempre tive esta fantasia: a de que, ao não evidenciarmos as diferenças de raça, sexo ou idade, ninguém faria grande distinção entre preto ou branco, mulher ou homem, jovem ou velho, e deixaria para perceber o que realmente importa: se é competente ou não, se é honesto ou desonesto, se é um liberal ou conservador, enfim, as variantes que realmente fazem uma sociedade avançar ou retroceder.Se Manoel Carlos não tivesse colocado aquela frase desagradável na boca da Lilia, eu não estaria aqui discutindo publicamente sobre racismo, eu sei. Mas já não acredito tanto no impacto das ações negativas, e sim das positivas: mostrar na TV pessoas de raças e sexos diferentes convivendo no mesmo universo, recebendo o mesmo tratamento e as mesmas oportunidades, conscientiza igual e não ofende ninguém.

Martha Medeiros - 23 de setembro de 2009 N° 16103.

9 comentários:

  1. o nome "A Última Flor de Lácio" refere-se a um poema de Olavo Bilac, no qual esse nome é designado como a lingua portuguesa seria a última das filhas do latim.

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  2. A última Flor do Lácio seria a nossa língua portuguesa, que é considerada a última das filhas do latim, sofre porque muita gente erra
    na escrita e na fala, mas ela nunca vai perder sua beleza.

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  3. em minha opinião o preconceito e uma perca de tempo pois todos somos diferentes se nao por fora, por dentro.

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  4. o pre conceitu é uma coisa mto feia
    INADIMISSIVELL

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  5. Acho que se não tivesse tanta polemica contra qualquer preconceito ,não seria tão visado .Na tv as pessoas fazem tantos projetos criticando as indiferença que acaba priorisando tal assunto e chama mais a atenção do que se deve, e de alguma maneira incentivando AINDA MAIS a indiferença.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. A Pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo.[1]

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  8. Este texto é um modo de demonstrar que o racismo ainda esta bem visível na sociedade,mesmo que seja somente dentro dos lares brasileiros.

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  9. Eu sei que vou te amar
    Por toda minha vida eu vou te amar ..."

    O certo seria vou te amar-te, e, portanto ênclise vem depois do verbo.

    (Ênclise locução verbal principal do infinitivo.)

    Eu sei que te vou amar
    (Próclise vem antes do verbo há o conjunção que)
    Por toda minha vida eu vou amar te
    (Ênclise locução verbal principal do infinitivo)

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